Sinto uma raiva pulsando em mim, louca pra sair.
Às vezes ela sai, mas quieta, disfarçada de surto. Ninguém leva a sério. Eu não levo a sério. E fica por isso mesmo...
Na maior parte do tempo ela fica escondida, ardente, agonizante, querendo explodir, mas se contém dentro de mim como quem tem vergonha ou medo.
No momento tenho raiva dessa cidade onde vivo, do seu governante e das pessoas que a idealizam.
Moro num monumento vivo que não pode ser tocado, só observado às margens por aqueles que o sustentam.
Quanta injustiça, quanta coisa pra fazer. Quantas crianças sujas, famintas, magérrimas, correndo pelas ruas por onde não passa ninguém, entrando sempre pela porta de trás, escondidas, sorrateiras, sem saber ao menos pra onde vão. Mas vão.
Enquanto isso noticiam o crescente índice de desenvolvimento humano, as conquistas, a alta renda per capita; índices nos quais só se entra em traje social e de carro, porque o ônibus pode não passar – e provavelmente não passará.
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