Hoje, no mercado durante o horário de almoço, me flagrei pegando passas cobertas com chocolate. Pensei comigo mesma: “Eu nunca gostei de passas. Às vezes até comia umas, mas chupava só o chocolate.” Ainda assim, comprei.
Chego em casa e o Érico não está. De férias, foi visitar os pais em Bandeirantes. Então entro, e logo os gatos vêm me cercar. Vejo que o pote d'água está virado no chão. E o pote extra que deixei na sala, praticamente vazio. Então corri, deixei a bolsa no balcão, e enchi o pote. Logo vieram beber os três. E resolvi limpar a caixinha de areia.
Pra encurtar a história, acabei tendo que limpar chão e parede (sim, parede!) por causa da Areta, que está com distúrbio intestinal – pra falar bonito. Ainda mais, tive que dar banho na senhorita, e secá-la (que não foi um trabalho fácil, já que ela parece se apavorar perto do secador). Enfim, terminei t, udo, me lavei, e fui até a cozinha (que foi o meu objetivo inicial, até que vi a desgraça acontecida). Como fui ao mercado, comprei também algumas porcarias. Ainda tinha uma cerveja na geladeira, então peguei o que percisava, a skol, batatas pringles e as passas com chocolate.
Sentei, joguei um pouco de poker, falei com o Érico no msn. Quando saí da mesa, me peguei comendo as tais passas. E fiquei pensando: “Será que eu gosto dessas passas?”. Experimentei várias vezes, sentindo um gosto meio estranho, mas não sabendo se eu achava bom ou ruim, sabe? Sabe quando, um dia, você pára e, do nada, não lembra o que estava fazendo? (aconteceu inclusive agora, enquanto escrevia essa frase...). Achei ruim algumas vezes, colocando defeitos, gosto de azedo, consistência esquisita que lembra daquela comida japonesa que comeu um dia, numa colônia japonesa, que parecia um girino na boca... Mas ao mesmo tempo, parecia gostoso comer. Simplesmente me fazia bem. E então percebi que eu não gostava, mas ficava um pouco menos triste comendo aquelas passas.
Lembrei de quais vezes eu comi essas passas com chocolate, já que eu não gostava. Lembrei dos natais de antigamente, quando a família era completa, e meu pai era uma figura constante. A minha avó materna, também minha madrinha, sempre dava de natal uma caixa de bombom garoto. E nessa caixa tem daqueles bombons ruins, com uva passa, banana passa, e outras coisas ruins que colocam pra estragar o chocolate. E lembro que chegava um tempo depois do natal, e quase ninguém tinha mais chocolate bom. E sempre ficavam esses bombons ruins no final da caixa, que ninguém comia. Quando todo o resto de chocolate da casa havia acabado, eu ficava tirando a casquinha de chocolate desses bombons e sempre comia. E no chocolate sempre ficava o gostinho das passas.
A única pessoa que sempre tinha chocolate por um bom tempo era o meu pai. Ele sempre guardava, gostava de muito pouco tipo de chocolate, praticamente prestígio e laka. Ele sempre falou que não gostava muito, só comia quando dava uma vontade. Ele nunca foi grande fã de chocolate.
Nos últimos meses de tratamento, ele ficou fascinado por doces. Cada vez mais, ele pedia pra minha mãe fazer determinada sobremesa, vivia pedindo chocolate. Quando ele desenvolveu diabetes, a gente limitava mais, mas, dependendo do resultado dos exames, a gente dava.
Um dia antes de ele ser internado, por último, eu liguei pra casa e minha mãe falou que meu pai queria pipoca. Saí da fila e fui pegar pipoca. Comprei de dois tipos, não sabia direito qual ele queria. Chegando em casa ele não estava tão bem e acabamos não estourando a pipoca. Esses dias pedi pro Érico jogar fora pra mim. Eu não conseguia jogar aquela porcaria, e não aguentava mais ver.
Enfim, a última coisa que ele comeu na vida, que pediu pra minha mãe colocar na boca dele, pra sentir o gosto, foi a casquinha de um ouro branco.
Chocolate, passas, chocolate, pipoca, todo esse ano, pudim!, cerveja, ruffles, couve, são apenas a ponta do que me aperta o coração todo dia.
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