O Piter faz parte de um grupo de amigos muito peculiar do qual faço parte. Hoje, pelo que fiquei sabendo, esse grupo está maior, repleto de pessoas que eu não conheço ou não suporto. As coisas mudam muito com o tempo, independentemente da força que fazemos para que isso não aconteça.
Então este grupo finalmente se reunirá anos após a formatura - da maior parte dos integrantes - e tempos depois da última reunião completa. Junto com a formação original, além dos novos integrantes que citei anteriormente, estão os agregados: namorados, maridos, ficantes, peguets. a avó da aniversariante (o evento será o aniversário de uma das integrantes originais - parabéns, Tahyana! - que, por acaso, nasceu no mesmo dia que o Chico)...
Toda a conversa sobre a reunião começou por e-mail, e o que era uma celebração do reencontro, hoje acabou com uma troca de farpas, agressões, defesas (de si mesmos, dos outros), acusações. Cabe explicar que é um grupo bem fechado que, como diz a Thais, costuma utilizar qualquer detalhe que saiba da sua vida, seja ele bom ou ruim, como argumento para uma eventual discussão. Qualquer coisa que você tenha feito ou falado a qualquer momento pode vir à tona, e nisso incluem-se os amores passados, as falhas de caráter, as dificuldades por que cada um já passou. Nós vivemos numa simbiose em que cada um se beneficia do outro sem nenhum escrúpulo. Às vezes alguém se chateia, outro exagera, um para de falar com o outro, se afasta, briga, mas no fim a gente acaba agindo como se ainda estivesse na faculdade, sem brigas, sem dinheiro e com muito álcool na cabeça.
É um grupo formado por renegados que ainda não haviam encontrado seu lugar no mundo, e que de repente se acharam no ambiente acadêmico (por acadêmico entenda-se qualquer coisa). Pessoas de esquerda, em geral, com diferentes - e ainda assim muito similares - modos de encarar a vida, com vontade de aproveitar ao máximo toda e qualquer experiência que se apresentasse. Ainda que sem muito dinheiro para comer ou sair, saímos, viajamos e construímos uma história de cumplicidade, medo e saudade. Fizemos festas internacionais em Porto Alegre, quando combinamos de retornar no ano seguinte, o que nunca aconteceu.
Passamos alguns anos relembrando todas as histórias cada vez que nos encontrávamos. Vivíamos no passado, que era mais interessante e presente que qualquer coisa que podíamos esperar do nosso futuro. Quase ninguém ali tinha um futuro. As coisas foram acontecendo e acabamos com filhos não planejados, casados, empregados, presos ao sistema (em sua maioria), e acabamos formando outros grupos de amigos tão diferentes deste, que muitas vezes nos perguntamos por que somos tão amigos. Acho que uma explicação possível é que todo mundo ali sabe algum podre do outro. É mais seguro ser amigo. hehehe
Brincadeiras à parte, é mesmo seguro participar de um grupo tão heterogêneo. Traz uma segurança saber de onde viemos, lembrar de quem fomos e quem somos hoje. Já participamos de muita festa juntos, temos histórias inacreditáveis e outras inenarráveis. Provavelmente a maioria não poderá ser contada às próximas gerações, pelo menos não em tom de repreensão e lição de vida. Se os pais tendem a proteger os filhos dos erros que já cometeram, os nossos provavelmente viverão em monastérios. E estaremos todos nós, pais, do lado de fora, bebendo em comemoração à vida de entrega dos nossos filhos.
Que venha o reencontro!
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